Direção: Susanne Bier Roteiro: Susanne Bier, Anders Thomas Jensen Elenco: Mikael Persbrandt, William Jøhnk Nielsen, Markus Rygaard, Trine Dyrholm, Wil Johnson, Eddie Kihani, Emily Mglaya, Gabriel Muli, Ulrich Thomsen Fotografia: Morten Søborg Música: Johan Söderqvist Figurino: Manon Rasmussen Edição: Pernille Bech Christensen e Morten Egholm Produção: Sisse Graum Jørgensen Distribuidora: Califórnia Filmes Duração: 119 minutos País: Suécia/ Dinamarca Ano: 2010 COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
A opinião
“Em um mundo melhor” é o novo filme da dinamarquesa Susanne Bier (de “Corações Livres”, “Coisas que perdemos pelo caminho”, “Irmãos”), uma das seguidoras do gênero Dogma 95, criado por Lars Von Trier e Thomas Vintenberg. O longa ganhou ganhou os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar e Globo de Ouro deste ano. Logo no início percebemos a influência do movimento que a diretora bebeu direto da fonte. A camera amadora – e proposital – retrata o cotidiano de um médico que chega a um “esquecido” vilarejo na África – com crianças correndo ao caminhão e ficando felizes quando ganham uma bola de futebol. A comunidade é mostrada complementada por uma música de efeito que rasga a cena. A imagem é ágil, com movimentos trêmulos, interagindo e tornando-se personagem. Contrastando, há o realismo visceral, que mostra sem pudores as feridas físicas, causadas por um homem chamado Machão – que abre a barriga das mulheres para saber o sexo do bebê. É um mundo perdido, que, sarcasticamente, obtém o título original de “Hævnen” (céu em sueco). Em uma narrativa progressiva, aprofunda-se a metáfora da fábula contemporânea ao questionar se deve ou não revidar a violência. Mas a trama não é lenta, comportando-se como um dia-a-dia editado. Com ações encenadas e planos longos em closes (aproximações), o longa tenta ser um misto de documentário com ficção. O liminar tênue – o equilíbrio – é pretendido, mas escorrega no próprio vício do estilo. A intensão musical é suavizar o sofrimento que se vê, mas explicita a indução manipuladora ao espectador.
São histórias que se conectam pela vertente familiar e o grau de paciência nas relações pessoais. A outra é sobre dois amigos que se juntam por sofrer bullying (agressões na escola de alunos). Um submisso apanha, o outro revida. O roteiro faz paralelo com a criação a fim de explicar a causa. Neste caso não há música para diminuir a sensação realista. A violência (auto-defesa) é necessária para que não seja recorrente. O que o aluno resignado aprende com o amigo, falta no ensinamento dos pais – que pretendem fornecer a outra face, talvez por medo, talvez por não querer perpetuar uma briga. O pai acredita no perdão social e não revida quando apanha. Ao mostrar a família a música sentimental volta, influenciando o melodrama. Um pai levou o filho ao mundo, o outro o manteve mais próximo da fantasia de um mundo melhor. Todos julgam todos. Entendemos que o clichê inicial direciona o aprofundamento gradual. E quando menos se espera, já estamos vivenciando o lado sombrio do ser humano, como a vingança. “É assim que começam as guerras”, diz-se. Entre momentos existenciais, uma outra história aparece: a separação dos pais. São muitos elementos para juntar. Um quebra-cabeças não linear. “Enterrar pessoas é nojento. Melhor, cremar”, diz-se. A vida impõe o questionamento pela constante crueldade dos outros. Até que ponto o individuo consegue viver plenamente a utopia de regras massificadas? Já Christian (William Johnk Nielsen) transpassa um olhar contido de raiva. Ele, na visão da sociedade, pode ser um pouco mais agressivo por ter perdido a mãe de câncer.
O seu sofrimento permite a catarse. Então usa isso para ser um super-herói ao seu modo, salvando pessoas da humilhação da própria submissão e da vergonha. “Que mundo seria se eu batesse em todo mundo?”, diz-se. Ele passa os limites ao construir uma bomba vingativa, aprendida na internet. “Eu não posso me ocupar com gente que desiste”, exaspera-se. Christian tem o mesmo nome do personagem principal de “Festa de Família”, que por sua vez é seu pai aqui. A maior referência é a “Dogville”. A personagem, interpretada por Nicole Kidman, suporta mais do que pode aguentar e quando tem a oportunidade, revida tudo que passou. Assim como o médico – que mostra o seu poder, porém com uma carga menor. “Você é um homem estranho”, diz-se por não entender a fuga de pagar na mesma moeda. É um mundo cão. O inferno são os outros. É um filme de momentos, com altos e baixos. Convive com o realismo e o comercial editado. O final estraga um pouco da sensação adquirida de maestria. A lágrima falsa. A música que manipula de novo. O argumento ganha nos valores sociais apresentados, fazendo de um pai um profeta do Dogma e do filho um justiceiro implacável. Em um mundo melhor, só a esperança. Concluindo, o espectador percebe que não há equilíbrio, parecendo uma colcha de retalhos de estilos. Porém há mais elementos vitoriosos, fornecendo uma cotação um pouco mais que só satisfatória.
Susanne Bier (15 de abril de 1960) é uma cineasta dinamarquesa. Nasceu em Copenhagen, Dinamarca. Ela estudou arte e arquitetura, antes de sua do National Film School, graduando-se em 1987. Ela passou a dirigir vários filmes na Dinamarca e na Suécia , seu primeiro sucesso comercial foi “The One and Only”, em 1999. Mais tarde, “Irmãos” (2004), “Depois do Casamento” (2006). Com “Em um Mundo Melhor” (2010) ganhou o Oscar e Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.
Filmografia
2010 - Em um Mundo Melhor 2007 - Coisas Que Perdemos Pelo Caminho 2006 - Depois do Casamento 2004 - Brothers 2002 - Corações Livres