Biutiful

Ficha Técnica

Direção: Alejandro González Iñárritu
Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Armando Bo, Nicolás Giacobone
Elenco: Javier Bardem, Blanca Portillo, Maricel Álvarez, Rubén Ochandiano
Fotografia: Rodrigo Prieto
Música: Gustavo Santaolalla
Produção: Alejandro González Iñárritu, Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro, Fernando Bovaira, Sandra Hermida, Jon Kilik, Ann Ruark
Distribuidora: Paris Filmes
Duração: 147 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2010
COTAÇÃO: MUITO BOM


A opinião

O cinema do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu (de “Amores brutos”, “21 gramas” e “Babel”) tem a característica de penetrar no sofrimento dos seus personagens – fracassados e esperançosos, fornecendo ao espectador a sinestesia das dores e medos projetados. Iñárritu escolhe a inerência como material bruto. Os que participam da trama embarcam em um mundo sujo, sem pudores, violento, verborrágico e visceral – como exemplo animais que são cortados e sangram. Cada um tenta sobreviver a sua maneira, com trabalhos lícitos ou não. Não há o julgamento de caráter. A opção é respeitada. O que faz o individuo mudar é ele mesmo ou algum evento inesperado. Quando a morte é iminente, a redenção corre contra o relógio para acontecer. A ética é maniqueísta. Convive com a necessidade de realização de uma ação boa ou má. Sempre há o argumento válido e aceitável – dos dois lados – a cada decisão escolhida. O seu novo projeto “Biutiful”, representa um recomeço, conservando essas características.

É o primeiro longa sem a participação do roteirista Guillermo Arriaga (diretor de “Vidas que se cruzam”) e é, também, o primeiro filme da Cha Cha Cha Producciones, estúdio criado por Iñárritu, Alfonso Cuarón (de “A sua mãe também”) e Guillermo del Toro (de “O Labirinto do Fauno”). Com uma equipe desta, é impossível não dar certo. Os roteiros tendiam ao gênero de filme coral, que sã histórias com a mesma importância, sem um núcleo principal, tendo como mestre maior Robert Altman. Recentemente Rodrigo Garcia imprimiu o estilo em “Destinos Ligados”. Desta vez, há uma trama principal. As outras interagem, tangenciando ao desfecho. Uxbal (Javier Bardem, excelente, ganhador do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes 2010) um herói trágico, pai de dois filhos, está sentindo a morte chegar. Ele luta contra uma realidade distorcida e um destino que trabalha contra ele, o impedindo de perdoar e amar, para sempre. A narrativa é conduzida, em seus 147 minutos, da imersão à emersão, com uma fotografia e camera que complementam a competência. Experimentam-se imagens e enquadramentos.

A camera participa ora como personagem, ora como observadora, querendo a todo instante absorver o abstrato do que se sente à metalinguagem concreta do que se vê. É um processo de aprofundamento. Os elementos são fornecidos aos poucos, assim como um jogo de quebra-cabeças. Conectam-se ações, diálogos, pessoas, historias. O foco principal está em Javier Bardem, que interpreta sem medo de se entregar totalmente. Isso gera a cumplicidade do convencimento para com o espectador. Até temas que poderiam desencadear o clichê, como a incursão no universo espirita de se comunicar com os mortos, comportam-se com realismo fantástico, expondo a satisfação plena de quem assiste. A escolha pela forma não linear é outro ponto interessante. O início pode ser o final ou não, com a estupenda trilha sonora de Gustavo Santaolalla (de “Brokeback Mountain”). Concluindo, um filme que merece muito ser visto. Recomendo.

Notas do Diretor

“Depois de lançar Babel, eu pensei que tinha explorado o suficiente várias linhas, estruturas narrativas fragmentadas e de passagem. Cada um dos filmes que eu fiz foi rodado em um idioma diferente, em um país diferente, com diferentes estruturas e escalas. No final de Babel, eu estava tão exausto que eu brinquei que meu próximo filme seria sobre um só personagem, em uma única cidade, com uma linha narrativa linear e em meu próprio idioma original. . . e aqui estou. Biutiful é tudo o que eu não tenha feito: uma personagem baseada história linear.

Eu queria captar a simples expressão de uma existência complexa. De certa forma, Biutiful é, novamente, sobre um tema em que eu sempre sou obcecado: a paternidade - sobre o medo de perder um pai, e principalmente de ser pai. O momento em que você começa a se sentir seu próprio pai e as crianças começam a se tornar realmente seus filhos. É sobre a perda - porque no final, somos aquilo que perdemos também. É o mesmo assunto, mas é diferente. Aqui, eu queria destruir a ilusão e revelar a verdade com o impacto inequívoco de intimidade. Um filme para mim, sempre começa com algo muito vago - um pouco uma conversa, um vislumbre de uma cena através de uma janela do carro, um feixe de luz ou algumas notas da música”.



O Diretor

Alejandro González Iñárritu na Cidade do México, 15 de Agosto de 1963. Iniciou sua carreira profissional em 1984 como DJ na emissora de rádio mexicana WFM (96.9 FM). A partir de 1988 começou a se dedicar a compor músicas para alguns filmes mexicanos. Estudou cinema em Maine com a supervisão do diretor Ludwik Margules e em Los Angeles por Judith Weston. Na década de 1990 já estava encarregado da produção da Televisa. Aos 27 anos se tornou um dos diretores mais jovens. Em 1991, depois da Televisa, criou sua própria companhia, a Zeta Films, que produzia propagandas e curtas-metragens assim como programas de televisão. Começou a escrever e rodar anuncios televisivos. Seu primeiro filme de média duração, Detrás del primero, foi produzido pella Televisa e conta com a atuação do espanhol Miguel Bosé. Juntamente com o roteirista Guillermo Arriaga, produziu 11 curtas nos quais pretendia mostrar as contradições que oculta a Cidade do México. Depois de três anos e trinta e seis rascunhos, acabaram unindo três dessas histórias em um longa-metragem: Amores perros. Esse filme foi indicado ao Oscar como Melhor Filme Estrangeiro e obteve vários prêmios em festivais internacionais, destacando-se o prêmio de Melhor Filme na Semaine de la Critique do Festival de Cannes. Em 2002, dirigiu um projeto cinematográfico a fim de narrar os atentados no World Trade Center em Nova York, 11'09'01 Onze de Setembro, que contou com a participação de Wim Wenders, Ken Loach, Mira Fair, Amos Gitai e Sean Penn. O sucesso de Amores perros levou González aos Estados Unidos para dirigir o filme 21 gramas, para a Universal Pictures. O cargo de roteirista esteve mais uma vez com Guillermo Arriaga e o filme contou com os atores Benicio del Toro, Naomi Watts e Sean Penn, que foram indicados ao Oscar por suas atuações. Seguiu-se então o filme, Babel, que constará de quatro histórias ambientadas em Marrocos, Tunísia, México e Japão, lançado em 2006 e que conta com Adriana Barraza, Gael García Bernal, Cate Blanchett, Brad Pitt e Koji Yakusho.

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