O Ciúme Mora Ao Lado

Ficha Técnica

Direção: Mika Kaurismäki
Roteiro: Mika Kaurismäki, Sami Keski-Vähälä, Petri Karra
Elenco: Hannu-Pekka Björkman, Elina Knihtilä, Antti Reini, Tommi Eronen
Fotografia: Rauno Ronkainen
Montagem: Jukka Nykänen
Produção: Mika Kaurismäk
Duração: 102 minutos
País: Finlândia
Ano: 2009
COTAÇÃO: MUITO BOM





A opinião

Uma das características do cinema finlandês é a apresentação de planos longos, contemplativos, tendo em seus personagens o olhar julgador exacerbado e expositivo, que podemos exemplificar citando o diretor Aki Kaurismaki, de “Um homem sem passado” e “Luzes na escuridão”. Aki é irmão mais novo de Mika Kaurismaki, que dirigiu o filme em questão “O Ciúme mora ao lado”, baseado no romance de Petri Karra. Falar de um e não falar do outro, soa incoerente, já que os dois absorvem referências do cinema de David Lynch, Jean-Pierre Melville, Robert Bresson, Rainer Werner Fassbinder, entre outros. O espectador pode aludir ao humor subestimado de Jim Jarmusch, que tem uma participação especial em “Os caubóis de Leningrado vão a América”, de Aki, que começou sua carreira sendo co-diretor do seu irmão. Mas há diferenças entre cineastas mencionados. Se o mais novo busca a narrativa com poucos diálogos, silencioso, introspectiva, o outro deseja a verborragia da agilidade da montagem. A rapidez com que ele apresenta a trama tangencia ao contraste totalitário.

Quem assiste não consegue definir o gênero apresentado. Pode ser considerado comercial, alternativo, amador, genial. Tudo isso ou separado. Os personagens expõem a agressividade natural, sem a importância da boa convivência social. É um filme eclético por possuir máfia, éticas questionáveis, submundo presente à realidade cotidiana, resignação, ações passionais e impensadas, quando aborda as reviravoltas que um pedido de divórcio pode causar. O realismo sujo, direto e não romântico povoa as conversas dos participantes deste universo. O roteiro intercala histórias paralelas que em um determinado momento se encontram. Mas não se pode considerar um gênero de filme coral, porque há o destaque de um núcleo especifico: o do casal e seus “joguinhos” surreais. É verão na Finlândia e os casais se divertem em jantares ao ar livre ou em banhos de lago noturnos. Mas a consultora de negócios Tuula e o terapeuta familiar Juhani estão em pé de guerra.

Por mais que tenham concordado em se divorciar de forma civilizada, antes de venderem a casa, os dois fazem de tudo para provocar ciúmes um no outro. O marido leva uma mulher que conheceu em um bar. Assim, Tuula convida um charmoso piloto de avião para um jantar na casa deles, e Juhani, por sua vez, se vinga contratando uma prostituta para se passar por sua amante. Sentimentos antigos afloram e os dois embarcam numa disputa sem fim. O tempo de ação e reação faz com que o espectador tenha uma experiência divertida, com extrema inteligência. Há um sarcasmo agressivo e impaciente, entrecortado por elipses instantâneas. Ambienta-se a amargura não de forma escrachada, mas com sutileza expressiva e explícita. Portanto, um filme interessante ao extremo, experimental no elemento montagem, interpretações convincentes – realistas e naturais. O longa custou dois milhões de dólares. As filmagens duraram um mês. vendeu mais de 140 mil ingressos e foi a segunda maior bilheteria da Finlândia em 2009. Vale muito a pena ser visto. Recomendo.

O Diretor

Mika Kaurismaki nasceu em 21 de setembro de 1955, na Finlândia. Graduou-se na Academia de Cinema e Televisão de Munique em 1981, com o filme The Liar. Na década de 80, fundou com o irmão Aki Kaurismäki a prolífica produtora Villealfa. Seu Tigrero, um filme que nunca foi feito (1994),com Jim Jarmusch e Samuel Fuller, venceu o prêmio da FIPRESCI no Festival de Berlim. Há 18 anos vive no Brasil, onde realizou, entre outros, os filmes Moro no Brasil (2002) e Brasileirinho (2005).

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