Um Quarto em Roma

Ficha Técnica

Direção: Julio Medem
Roteiro: Julio Medem
Elenco: Elena Anaya, Natasha Yarovenko, Enrico Lo Verso
Fotografia: Álex Catalán
Montagem: Julio Medem
Música: Jocelyn Pook
Duração: 109 minutos
País: Espanha
Ano: 2009
COTAÇÃO: REGULAR


A opinião

O cineasta espanhol Julio Medem despertou o olhar atento de críticos e público imprimindo características próprias como uma narrativa cíclica, de texturas minimalistas (em “Os Amantes do circulo polar”) e ou de lirismo erótico (em “Lucia e o sexo”). É um diretor perfeccionista quanto aos elementos de direção de arte e fotografia. O seu mais recente e aguardado filme, depois de se aventurar no gênero documentário, sobre os problemas políticos de Basco, seu país de origem, segue a linha intimista. “Um quarto em Roma” possui um argumento simples, contado de um único lugar. A trama, basicamente, aborda duas mulheres que se encontram em um quarto de hotel, em Roma, trocando confidências, mentiras aceitáveis, verdades incompreensíveis, entre atuações e realidade. Roma. As jovens Alba (Elena Anaya) e Natasha (Natasha Yarovenko) se conhecem ao acaso em uma noite de verão. A partir de então, elas passam doze horas juntas em um quarto de hotel. A princípio resistentes a qualquer tentativa de aproximação, temendo pôr em risco os relacionamentos reais que cultivam no exterior, as duas acabam cedendo a seus instintos mais inesperados, numa entrega apaixonada a uma liberdade que nunca experimentaram.

No entanto, na tarde do dia seguinte, as duas devem embarcar em aviões com destinos distintos: uma irá para a Espanha, a outra para a Rússia. A camera apresenta-se como observadora, sendo limitada a aquele lugar, não a permitindo sair, assim se conserva a fantasia que as duas criaram. É impossível não aludir a “Na cama”, o longa chileno de Mathias Bizé, já que é assumidamente uma refilmagem. A diferença entre os dois é como os diálogos são apresentados. Aqui, as conversas e ações são teatralizadas e encenadas, tendo cada instante futuro projetado e sistematicamente organizado, lembrando uma peça grega, extremamente melodramática. O roteiro é bobo, mesmo quando manipula o espectador a absorver as histórias inventadas pelas duas. Até que ponto o que se conta, aconteceu, não se sabe. Mas é o que menos importa. A parte técnica traduz o diamante bruto do longa. A fotografia saturada e iluminada remete, quem está do outro lado da tela, a mergulhar nas referências de obras de arte, que não se mostram pretensiosas, e sim necessárias dentro do contexto. A camera procura ângulos diferenciados, as enquadrando com elegância, sutileza e bom gosto. Pela música, com Natasha Atlas, já se vale o ingresso, expondo o amor passional sem regras, limitações e barreias sociais.

Vive-se um dia de paixão integral e intensa, com a História (geograficamente falando) misturando-se à história (vivência e compartilhamento) do casal. Não há como não se encantar com as imagens que pululam na tela. A cena da banheira cria a metafísica, passeando entre a poesia finalística e o realismo arrebatador. Quanto mais elas se conhecem, mais o sol aparece. É a luz da descoberta de segredos, dores, angústias, quereres e idiossincrasias. Contudo, a sucessão de clichês que envolve a maioria das ações, palavras e reviravoltas prejudica em muito o produto final. Há o Bings (espécie de google earth – possibilidade de se ver por satélite lugares aproximados), comportando-se como um merchandising amador. Caminha-se pela linha tênue do óbvio pobre e da digressão inteligente. Nesta competição, a percepção de quem assiste escolhe a mesmice, esfriando o que poderia ser um excelente filme, principalmente pela escolha de atrizes tão belas e simétricas. Concluindo, a parte técnica até que tenta, com suas infinitas e repetitivas “Loving Strangers”, mas não consegue segurar sozinha a paciência do espectador. Há momentos mágicos, únicos e inventivos que dariam um curta maravilhoso, mitigando o excesso quase patético da ingenuidade escolhida.

O Diretor

Julio Médem Lafont é escritor e cineasta espanhol. Nasceu em São Sebastião, em 21 de outubro de 1958 um país Basco, e mostrou interesse em filmes desde criança, quando ele pegava a camera super 8 de seu pai e filmava à noite, quando ninguem estava prestando atenção. Depois da graduação (onde ele ganhou grau em médicina e estudos gerais) ele trabalhou como critico de cinema e posteriormente como roteirista, assistente de direção e editor. Depois de poucos curtos ele dirigiu seu primeiro longa metragem, "Vacas", com o qual ganhou um prêmio Goya.

Depois ele dirigiu O Esquilo Vermelho e Tierra, ambos receberam boas criticas em Cannes. Em seu próximo filme, Os Amantes do Circulo Polar, que foi comparado ao trabalho de Krzysztof Kieślowski, ele explorou uma narrativa ciclica e provou de texturas minimalistas que chegariam ao apice em seu proximo filme, Lucia e o Sexo, narrativa de grande lirismo erótico.

Depois deste filme ele se desviou do seu estilo de direção e produziu La pelota vasca, um documentário sobre os problemas politicios do país Basco, os quais causaram furor entre os politicos espanhois de direita. Seguindo, Julio Medem filmou Caotica Ana que estreou em 2007, e Um Quarto em Roma em 2009.