Crítica: Boca [do Lixo]

Ficha Técnica

Direção: Flavio Frederico
Roteiro: Mariana Pamplona/Flavio Frederico
Elenco: Daniel de Oliveira, Hermila Guedes,Milhem Cortáz, Paulo César Pereio, Jeferson Brasil, Maxwell Nascimento, Camila Leccioli, Juliana Galdino, Claudio Jaborandi ,Leandra Leal
Fotografia: Adrian Teijido
Montagem: Vania Debs
Música: Bid
País: Brasil
Ano: 2010
Duração: 100 minutos

O filme venceu na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Leandra Leal) no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2013.




A opinião

“Boca do lixo” aborda a vida de Hiroito de Moraes Joanides que viveu na classe média alta, debandou a frequentar a Boca do Lixo, tradicional reduto de prostituição nos anos 1950 e 1960 em São Paulo. Depois que seu pai foi assassinado e Hiroito, acusado pelo crime, virou um dos criminosos mais procurados pela polícia pela exploração de tráfico de maconha e prostituição, além de cometer assassinatos. A figura do personagem, altiva, prepotente e decidida no quer quer, é mostrada em cenas iniciais de arquivo com depoimento do próprio bandido. A fotografia satura a imagem ao cinza, às vezes tendo a cor da cortina da janela como filtro da cena mostrada, desejando com isso, criar uma atmosfera nostálgica, como uma fotografia envelhecida. A narrativa é de um filme policial daquela época, incluindo a histeria das prostitutas e a lésbica de terno. Hiroito mostra o sadismo inerente de sua vocação natural. Os pingos para matar formigas. O prato de comida, e banho, que compra a necessidade de uma criança, a fazendo trabalhar quase como um escravo, manipula o espectador a aceitar o bom gesto, para depois retornar a sua carga negativa.

O personagem principal lê “As Flores do Mal”, livro escrito pelo poeta francês Charles Baudelaire, considerada o marco da poesia moderna e simbolista. Há o politicamente correto quando se transpõe à tela. O sexo comportado, os tiros ingênuos, as batidas e perseguições policiais que não convencem, a camera lenta, os conflitos que se resolvem rápidos demais, tudo faz com que não haja convencimento, comportando-se como uma trama folhetinesca, utilizando-se a técnica cinematográfica. A trilha sonora funciona por usar músicas antigas (italianas e brasileiras) não repetitivas da mesmice. Aqui, os diálogos - com frases de efeito, com prepotência verborrágica e afetação - deixam no ar a pretensão. Hiroito foi o responsável por implantar a cocaína no universo da boca do lixo. Os fades (passagens temporais) são longos e desnecessários. “Até a policia é vitima dos bandidos”, diz-se. A recorrência da falta de naturalidade cansa o espectador e expõe o clichê por causa, principalmente, da caricatura vocabular e dos elementos elipsados e perdidos. “Você nunca está satisfeito”, diz-se revelando o óbvio que se perde no meio do caminho.

A Sinopse

Adaptado da autobiografia de Hiroito de Moraes Joanides, o filme retrata a atmosfera noturna da Boca do Lixo, região de prostituição no centro de São Paulo nos anos 50 e 60. Oriundo de uma família de classe média-alta, Hiroito frequentava a Boca apenas como boêmio em busca de aventuras sexuais, até que uma tragédia pessoal provoca uma mudança em sua vida. Seu pai é violentamente assassinado e Hiroito é acusado pelo crime. Pouco tempo depois, Hiroito compra dois revólveres e se muda para a Boca, tornando-se rapidamente um dos bandidos mais procurados pela polícia.

O Diretor

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1969. Estudou Arquitetura e Cinema na Universidade de São Paulo. Atua como diretor e produtor desde 1992. Realizou o longa-metragem Urbânia(2001), sete curtas premiados internacionalmente (entre eles, Todo Dia Todo, Copacabana e O Fusca) e quatro documentários, entre eles o ganhador do festival É Tudo Verdade 2006, Caparaó.