Direção: Toniko Melo Roteiro: Bráulio Mantovani, A.C. e Thiago Dottori, A.C Elenco: Wagner Moura, Arieta Corrêa, Gisele Froes, Juliano Cazarre, Norival Rizzo, Roger Gorbeth, João Francisco Tottene, Amaury Jr., Jorge D’elia Fotografia: Mauro Pinheiro Jr., ABC Montagem: Gustavo Giani Música: Antonio Pinto País: Brasil Ano: 2010 Duração: 96 minutos
A opinião
“Vips”, o filme nacional mais aguardado do Festival do Rio, aborda a vida de um personagem que, não se valorizando, decide ser o outro. “Se você não compreende tudo, será o seu pior inimigo, um nada”, diz o seu pai (imaginário ou não – confundindo o espectador propositalmente). Há divisões temporais da narrativa, intercalando apenas o momento inicial, como prévia da história. “Minha mãe nunca vai deixar eu sair do chão”, diz-se. Inspirado na história real de Marcelo do Nascimento, que vive em crise com a sua identidade, utilizando a inteligência, ingenuidade, perspicácia, carisma e crença absoluta para fazer o seu sonho dar certo, nem que para isso precise se transformar em outra pessoa. A confiança é tamanha que convence a todos. É inevitável não referenciar o filme “Prenda-me se for capaz”, do diretor Steven Spielberg, na figura do ator Leonardo di Caprio. Mas o longa tem o seu próprio ritmo, abusando da excelente interpretação de Wagner Moura, que é o elemento principal. As expressões faciais – como o riso de um menino vislumbrado, o aprofundamento sútil e ou emocionado, passional ou astuto, tudo isso faz com que o espectador prenda a atenção nele e deixe todos os outros elementos como coadjuvantes. A fotografia saturada ao contraste, tendo a camera competente – destacando a interna da piscina, porém básica, complementam satisfatoriamente. “Não é o touro que mata o toureiro, é o toureiro que se deixa matar”, diz-se com a elipse narrativa. Passa-se pelas suas aventuras, o aprender a voar na garra e na coragem por querer muito aquilo; ser um conhecido empresário (sendo vip em festas e no desconhecimento fútil das pessoas); a primeira hora de vôo; ser cantor como Renato Russo, da Legião Urbana, com a música “Será” – aludindo a banda que o próprio ator participa como vocalista na vida real; pelo visual loiro; pelo vôo kamikaze; pelo novo corte de cabelo de “Empresário famoso”; pela exibição do helicóptero em um resort; pelo carnaval de Recife; pela entrevista com Amauri Jr.
Ele “viaja” na imaginação dele, criando um mundo próprio consistente e sem opções de fuga. Há supervalorização da imagem dele na figura do outro escolhido, baseando-se na sorte para que acontecimentos futuros possam acontecer dentro do seu plano de ser algo, porém sem a pressão do resultado. Torce-se por ele, assim como pelo personagem do Spielberg. As enganações e mentiras despertam a conivência do espectador, que absorve a sordidez das outras pessoas querendo fáceis privilégios. Depois de rico e famoso, qualquer bermuda é legal. A mãe ri, nervosamente e resignada da loucura do seu filho, quando ele aparece na televisão sendo o que não é. Ele precisa ser o outro sempre. Só assim consegue exterminar o nada de dentro de si. Não se importa nem em ser do grupo PCC de São Paulo. “Olha no meu olho e vê se eu tô mentindo”, termina-se diretamente, deixando genial o seu roteiro.
A Sinopse
VIPs fala de um rapaz que não consegue conviver com a sua identidade. É uma fiçção inspirada na história real do farsante Marcelo do Nascimento. Nas aventuras vividas por este intrigante anti-herói, Marcelo tem um sonho: pilotar avião. Para tanto, se torna piloto do narcotráfico e vive inúmeras aventuras. Com a vida ganha, entra no jet set no carnaval do Recife como irmão do dono da Gol, quando é preso. Num presídio de segurança máxima, para se salvar, ressurge como Fênix, deixando-nos uma pergunta.
O Diretor
Começou a carreira na produtora Olhar Eletrônico, em 1982, com destaque na direção dos especiais de Ernesto Varela. A partir de 1988, atua como diretor de filmes publicitários e, em 1993, começa a dirigir na O2 Filmes. Já foi sete vezes premiado no Profissionais do Ano, e no Ojo de América e Cannes. Em 2008, dirigiu episódios de Som & Fúria para TV Globo, que depois geraram um premiado filme feito em co-direção com Fernando Meirelles.