Ficha Técnica
Direção: Xavier Beauvois
Roteiro: Etienne Comar, Xavier Beauvois
Elenco: Lambert Wilson, Michael Lonsdale, Olivier Rabourdin, Philippe Laudenbach, Jacques Herlin
Fotografia: Caroline Champetier
Montagem: Marie-Julie Maille
País: França
Ano: 2010
Duração: 120 minutos
A opinião
Há filmes que se sustentam apenas por sua história, não havendo necessidade de inovar na técnica cinematográfica. “Of Gods and men” enquadra-se nesta categoria. A narrativa busca o momento, retratando, com planos longos, quase únicos, ações cotidianas como a missa, tratamento médicos e a leitura. Baseado em uma história real, o longa aborda o questionamento da fé incondicional quando expõe a vida de oito monges em um mosteiro no alto da montanha da Argélia, convivendo sem conflitos com a escolha muçulmana do povo do qual fazem parte. Esses, “homens de Deus”, lêem, estudam o Corão, demonstrando a não limitação do pensamento e das ideias. Eles vivem uma existência humilde, sem luxos, apenas com prazeres momentâneos: um bom vinho, uma boa música, um livro raro. Plantam a própria comida e ajudam a comunidade fornecendo remédios e assistência integral, humanizando os pacientes e distribuindo sinceras demonstrações de carinhos e ou presenteando crianças necessitadas com um tênis, por exemplo. É uma vida de franciscanos, ajudando a todos sem olhar e julgar quem são, principio geral da doutrina católica. Aos poucos o mundo externo é mostrado, utilizando o simbolismo do silêncio (do monastério) e do barulho exacerbado (fora dali). A camera ambienta o lugar quando mostra os indivíduos, captando conversas banais sobre assuntos quaisquer. A política religiosa e social começa a acontecer, por reuniões entre catolicismo e islamismo. “Quem mata quem?”, sobre religiosos radicais que desejam fazer justiça sendo o próprio Deus. Os monges precisam decidir qual a proteção desejam, porque estão “convivendo com o desconhecido”. O roteiro objetiva cortes secos e diretos. Assim, cria a naturalidade do que está sendo apresentado e gera o convencimento totalitário por parte do espectador.
O “novo” necessita-se de conhecimento, causando a saída do conformismo de seus mundos, transformando a teoria religiosa aprendida em prática. É inevitável o medo (porque são homens e não deuses). Esse sentimento coloca em dúvida a própria crença, que precisa ser seguida sem ressalvas. Se a morte for necessária, morre-se por Deus. O detalhe é que não estão preparados para isso e nem tão pouco querem fornecer suas vidas, mesmo tendo abdicado dela no inicio. Há ingenuidade em acreditar que a fé inabalável os salvarão. “Quem são os homens de Deus”, é a pergunta que fica. As provações são recorrentes, então a confiança é o mote para resolver situações conflituosas. Eles precisam conhecer o inimigo, disputando opiniões religiosas e ganhando pelo argumento persuasivo. “Ir embora é fugir”, alude-se à fé, entre cantos gregorianos. “Sua teimosia está ficando perigosa. Não é covardia querer ir embora”, diz-se. Um “inimigo” está cada vez mais próximo. Os “Freis” cantam mais alto para que o barulho, que se intromete no “lugar de Deus”, seja abafado. “Não tenho medo da morte, sou um homem livre”, diz-se. Tornam-se reféns dos radicais (terroristas). Trocando uma prisão por outra. “Eu rezo, mas não ouço nada. Somos mártires de Deus? Fazemos isso para sermos heróis?”, um monge questiona-se. Concluindo, é um filme que expõe o lado humano de “servos” de Deus quando são confrontados com o perigo real. Fantástico. Excelente.
A Sinopse
Na década de 90, em um mosteiro no alto de uma montanha na Argélia, um grupo de oito monges franceses vivem em perfeita harmonia com a comunidade mulçumana. Contudo, quando um grupo de fundamentalistas islâmicos massacra uma equipe de trabalhadores estrangeiros, o medo se espalha pela região. O exército oferece proteção aos monges, mas eles recusam. Apesar das ameaças crescentes, se convencem de que o mais correto é permanecer no local e dar continuidade a sua missão, aconteça o que acontecer. Inspirado por fatos reais. Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes 2010.
O Diretor
Nasceu em 1967, na França. Trabalha como ator desde 1988, tendo participado de filmes de Jacques Doillon, Philippe Garrel e Benoît Jacquot. Como assistente de direção, trabalhou com André Téchiné e Manoel de Oliveira. Em 1991 dirigiu seu primeiro filme, Nord, indicado a dois prêmios César. Com Não esqueça que você vai morrer (1995), ganhou o Prêmio do Júri em Cannes e o Prêmio Jean Vigo. Também concorreu ao Leão de Ouro em Veneza com Selon Matthieu (2000).