Jose & Pilar

Ficha Técnica

Direção: Miguel Gonçalves Mendes
Roteiro: Miguel Gonçalves Mendes
Elenco: José Saramago, Pilar Del Río, Gaël García Bernal, Chico Buarque, Paco Ibañez
Fotografia: Daniel Neves
Montagem: Cláudia Rita Oliveira
Música: Adriana Calcanhotto, Camané, Luís Cília, Noiserv (David Santos), Pedro Gonçalves, Pedro Granato, Filipe Pinheiro
País: Portugal / Brasil / Espanha
Ano: 2010
Duração: 125 minutos


A opinião

“José & Pilar” é um filme livro. O espectador absorve as palavras - de humor ácido, sarcástico e perspicaz, com uma inteligente picardia - de seus personagens reais. Aborda a vida do escritor português José Saramago e de sua companheira Pilar del Rio, durante quatro anos, entre a tumultuada agenda de reuniões, e autógrafos, e o novo livro que José escreve “A viagem do elefante”, que explica a trajetória de um animal que se comporta como um ser humano. “Andar, andar, andar, caminhar, caminhar, caminhar”, ele diz. São inúmeras as disputas saudáveis dos diálogos. O conhecimento e a inteligência são enaltecidas, criticando-se o óbvio e a mesmice verborrágica da imprensa. O filme começa com o tom mórbido, de Saramago se despedindo de Pilar. “Nos encontramos em outro sitio, Pilar”, entre estrelas. “Morte é a diferença entre o já estar e o não ter estado estar. Com co-produção de Augustin Almodóvar, da El Deseo, apresenta uma atmosfera, conduzida por um jazz, com fotografia saturada ao cinza, lembrando “Ensaio sobre a cegueira”. Impossível anotar tudo, por isso digo que ver o filme é ler Saramago e Pilar. O documentário mostra o cotidiano do casal. O escritor joga paciência no computador, enquanto dá entrevistas a vários veículos de comunicação. As palavras transformam-se em elemento metafísico, como as danças em arcos, para ilustrar uma história. Vemos uma figura comum, que tem em sua companheira uma secretária. Ela lê as cartas (quem as narra, Marília Pêra, Fernando Meirelles, como exemplo), as responde. Ele escreve, lê e ou se prepara para viajar (divulgar o livro – às vezes levando 12 horas em vôos e 450 livros por dia para autografar, realizar palestras – com encontros tendo Gabriel Garcia Márquez na mesa – repare a parte que eles dormem - e ou encontrar politicamente com líderes mundiais – Dalai Lama, por exemplo. “Quem inventou o pecado? Pecado é um instrumento de dominação para com o outro. Quem crê, crê e acabou-se”, questiona-se. “Desejo morrer lúcido e de olhos abertos”, diz Saramago. A musica cria a atmosfera intimista, busca o mergulho do espectador nas emoções de seus personagens sem emoções.

Há melancolia cética e direta. “Mas eu odeio o Natal”, diz-se. As questões principais são abordadas exacerbando a polêmica, com clichês já conhecidos da crença atéia do escritor. O longa passa por “As intermitências da morte”, leitura teatral com Gael Garcia Bernal e Saramago, pela Fundação José Saramago, pela Biblioteca criada pelo casal, pelo casamento deles, pela morte da mãe de Pilar – com aplausos e fotos no cemitério, pela internação dele, recuperação, término do livro, pelas “saramaguetas”, pelo filme “Ensaio sobre a cegueira”, de Fernando Meirelles e pela ideia de um novo livro “Caim”. “Qual a tarefa de um escritor?”, “Escrever”, sobre a pergunta “idiota”. “Tenho medo de não acabar o livro”, diz. “O tempo aperta, vem um sentimento de urgência”, sobre o cansaço da agenda e complementa “Queria ser uma árvore”. Um jornalista define Pilar como polêmica por organizar a agenda e discursos antagônicos dela com o marido sobre quem é melhor: Hillary Clinton ou Obama. “Metáfora da inutilidade das coisas”, sobre o corte das patas de elefantes para servir de espaço a guarda-chuvas. É um filme apaixonante, que hipnotiza o espectador pela figura do escritor, mas é lento e arrastado quando permite que a imagem ultrapasse o limite da observação e da percepção.

A Sinopse

A partir do registro do dia-a-dia da relação entre José Saramago e a jornalista espanhola Pilar Del Río, acompanhamos de forma intimista o casal em sua casa nas ilhas Canárias e em suas viagens pelo mundo. O ponto de partida é o processo de criação, produção e promoção do romance A Viagem do Elefante, desde o momento da construção da história em 2006 até o lançamento do livro no Brasil em 2008. A ficção do romance reflete o percurso do próprio autor, sendo a dura e custosa viagem do elefante um espelho de seus desafios pessoais, entre a doença, o trabalho e o amor por sua esposa.

O Diretor

Nasceu em Portugal, em 1978. Formado em Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema em 2005, estudou também Relações Internacionais e História. Em 2002, realizou o documentário D. Nieves, premiado em festivais em Portugal. Seu segundo filme, Autografia, um retrato do pintor e poeta Mário Cesariny, venceu o Prêmio Melhor Documentário Português no DocLisboa de 2004.