Crítica: Viúvas Sempre às Quintas

Ficha Técnica

Direção: Marcelo Piñeyro
Roteiro: Marcelo Piñeyro, Marcelo Figueras
Elenco: Leonardo Sbaraglia, Pablo Echarri, Gloria Carrá, Ana Celentano
Fotografia: Alfredo Mayo
Montagem: Juan Carlos Macías
Música: Roque Baños
País: Argentina / Espanha
Ano: 2010
Duração: 122min


A opinião

Marcelo Pineyro é um dos grandes diretores do cinema argentino. Ele consegue captar o lado sórdido e inerente do ser humano, porém o humaniza com sentimentos de culpa, solidão, um bruto existencialismo e a política, principalmente advinda da ditadura militar. Os seus trabalhos sempre buscam temas aprofundados, objetivando a quebra do equilíbrio que cada um possui. Expõem-se o psicanalítico e expurga o que há de mais interno na alma. “Plata Quemada” versa sobre assaltantes homossexuais que vivem em conflito as suas escolhas. “Kamchatka”, sobre crianças na revolução estatal argentina. “O método”, sobre a competição profissional levada às últimas consequências. Outra característica de seu trabalho é a fragmentação da trama, não linear, fornecendo pedaços de elementos prévios, que se explicarão durante a história. O espectador é quem monta o quebra-cabeças. “Viúvas sempre às quintas”, o seu último filme e também o assunto em questão, direciona-se ao suicídio social. A narrativa deixa-se acontecer pelas ações de seus personagens, que ditam os próximos acontecimentos, sem interatividade. Os trechos iniciais despertam a curiosidade do porquê. Baseado na história de Cláudia Pineyro, o longa retrata a futilidade, leve e elegante, a fim de mascarar o que se realmente sente. “O branco é a morte”, diz-se. Há o marido inerte, outro que perdeu o emprego, outro que bate na mulher. Há a esposa que esconde a homossexualidade e apresenta-se socialmente perfeita (lembrando a personagem Bree do seriado “Desperate Housewives”), outra que se faz de vítima, mas gosta de apanhar, outra que é a mais sensata de todas. Os filhos são frutos dessa vivência, que não podem ser o que querem por causa da roupagem social, assim são rotulados pela diferença e pela estranheza. “Bomba de nêutrons, que mata as pessoas e deixa a cidade intacta”, diz-se. Computadores, televisão, drogas. Todos precisam de uma fuga, de uma catarse. A convivência superficial, unindo-os sempre às quintas, sendo viúvas por conservarem um dia só para elas, longe de seus maridos que jogam, inclui conversas de homens para homens - com “O poderoso chefão”, jogos de tênis (competitividade) e a busca pela masculinidade – e conversas das mulheres – com zonas de relacionamento: “Love zone”, o do conhecimento e “Gray zone”, a cinzenta rotina cotidiana. Esses são estereótipos, propositalmente tratados como clichês ambulantes.

Um dos pontos altos é a música, que reverbera emoção sem sentimentalismo melodramático. É um longa sóbrio, lúcido e existencialista. Os personagens vivem em uma prisão, metáfora da vida atual, já que fora do condomínio de luxo, a cidade está tomada por não simpatizantes do regime imposto. “Por fora, sol, por dentro, o podre”, diz-se resumindo a diretriz que se deseja abordar. Quando final chega, o roteiro já foi explicado gradualmente. Vemos por um ângulo diferenciado. Os diálogos aumentam o grau de extração interna. “Existencialismo? Conservo a lucidez na depressão. ”, diz-se. O papo atinge o tema morte, iniciado por um personagem que ganha dinheiro pelo falecimento alheio. “Estamos sós como cães, mas meu filho é um milagre”, sobre argumentar o medo que sente, fazendo graça nervosa com “O vento levou…”. O que sobrevive é quem não vive o egoísmo totalitário. Pensar no outro salva. As rachaduras dos próprios seres. “Queria uma pílula que cura, mas não tirasse a razão”, sobre o Prozac, antidepressivo com o principio ativo da fluoxetina. Concluindo, é um filme autoral, fragmentado, com ritmo lento e um querer constante do estado de alerta. Vale muito a pena assistir, porque retrata com futilidade os elementos angustiantes de cada um.

A Sinopse

Os habitantes de Altos de la Cascada, bairro fechado de Buenos Aires, vivem felizes em seus condomínios, repletos de jardins, piscinas aquecidas e mansões monitoradas por câmeras de segurança. Numa manhã como qualquer outra, três cadáveres são descobertos boiando na piscina de uma das casas. O caso abala a comunidade, que não tarda em aceitá-lo como uma fatalidade. Mas a investigação das últimas ações das vítimas põe em dúvida o caráter acidental das mortes e ameaça trazer à tona o que se esconde por trás das fachadas impecáveis do condomínio.

O Diretor

Nasceu em 1953, em Buenos Aires. Estudou Cinema e Comunicação Visual na Faculdade de Belas Artes de La Plata. Com Tango feroz (1992), ganhou o Condor de Prata de Melhor Primeiro Filme, pela Associação de Críticos de Cinema da Argentina. Em 2000, lançou Plata quemada, vencedor do Prêmio Goya de Melhor Filme. Dirigiu ainda Kamtchatka (2002), Melhor Roteiro no Festival de Havana, e O que Você Faria? (2005), ganhador do Goya de Melhor Roteiro Adaptado.