A Caixa de Pandora



A opinião

É um filme sobre a paciência e perceber o próximo. No mundo de hoje, as pessoas estão preocupadas apenas com os próprios problemas, mitigando a sensibilidade da convivência com um outro indivíduo. O individualismo torna-se crônico e exacerbado. E é dito um mundo em evolução. O longa retorna a idéia da simplicidade em detalhes. A narrativa descreve em ações e movimentos reais, com diálogos não encenados mostrando naturalidade do roteiro. A fotografia é competente, mas não inova, apesar de ser ajudada pelas paisagens da Turquia. Em certos momentos, durante a doença da matriarca, observamos uma sabedoria direta, sem maldades, ingênua, sem esperar nada mais, podendo ser cruel às vezes dependendo do ponto de vista. As palavras são ditas com uma incrível sinceridade humanizada. As verdades e as fragilidades aparecem aos poucos quando confrontadas. Há ceticismo, pessimismo, otimismo, infantilidade de adultos e a tal famosa hipocrisia social. Alguns espectadores não se convenceram com a música adotada no filme. Porém discordo a achando necessária por demonstrar um momento de sofrimento sem pieguices. A velhice causa impaciência. E uma velhice acompanhada de cuidados causa a irritação. As causas anteriores aparecem de um estilo de vida que afunda ainda mais o querer descomplicado. Outro detalhe humanizado é a pureza de envelhecer. Os idosos são tratados como crianças por voltarem a ser crianças. O filme capta muito bem a maneira de ser dessas 'crianças', como por exemplo quando ficam sem fazer nada. "A doença é a culpada e não a sua mãe", diz a médica. A moral que a história passa é que aprendemos em todos os momentos. Sempre. Todos nos ensinam algo em algum instante. Três frases muito interessantes são "Então não se lembre. É melhor assim", "Uma vez na vida, olhe o que tem nas mãos" e "A vida é assim: você acaba cedendo mais cedo ou mais tarde". A película é lapidada como um diamante simples, com dizeres existencialistas não prepotentes. Algumas pessoas incomodaram-se com o filme em algum momento, mas não sabiam direito o porquê. Pensaram na música, na doença, na narrativa. A minha opinião é diferente. Achei excelente. Vale muito a pena assistir. Recomendo.

Ficha Técnica

Direção:Yesim Ustaoglu
Roteiro:Yesim Ustaoglu, Selma Kaygusuz
Elenco:Tsilla Chelton, Derya Alabora, Onur Ünsal, Övül Avkiran
Fotografia:Jacques Besse
Montagem:Franck Nakache
Música:Jean-Pierre Mas
País:Turquia / França / Alemanha / Bélgica
Ano:2008

A Sinopse

Os irmãos Nesrin, Güzin e Mehmet moram em Istambul e levam vidas distantes, centrados em suas preocupações de classe média alta. Um dia precisam viajar ao vilarejo natal para procurar por sua mãe, Nusret, que desapareceu. Eles a encontram, mas ela apresenta sinais de Alzheimer, e os irmãos decidem levá-la para Istambul. Cuidar da mãe, no entanto, faz com que antigos conflitos ressurjam. Nusret também não está contente, pois deseja voltar a sua cidade. O único que parece compreendê-la é Murat, seu neto rebelde e introspectivo. Concha de Ouro e de Prata no Festival de San Sebastián de 2008.



O Diretor

Nasceu em 1960, na Turquia. Após estudar Arquitetura, trabalhou como jornalista independente e promoveu oficinas de vídeo. Dirigiu uma série de curtas-metragens, e em 1994, realizou seu primeiro longa, The Trace. Seu filme seguinte, Jornada para o Sol (1999), lhe deu reconhecimento internacional, conquistando o Prêmio de Melhor Filme Europeu no Festival de Berlim. Em 2004, dirigiu seu terceiro longa, Esperando as Nuvens.